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“Tem coisas que ninguém nunca vai saber”, argumentou o baixista Champignon ao ser entrevistado pelo cineasta Felipe Novaes em setembro de 2013 para documentário sobre Chorão.

Uma semana depois de dar depoimento para as câmeras operadas sob a direção de Novaes, Champignon – nome artístico do músico paulista Luiz Carlos Leão Duarte Junior (16 de junho de 1978 – 9 de setembro de 2013) – se suicidou.

O suicídio do baixista encorpou a aura trágica que se formara ao redor da banda paulista Charlie Brown Jr. seis meses antes quando Alexandre Magno Abrão (9 de abril de 1970 – 5 de março de 2013), o vocalista Chorão, foi encontrado morto pelo motorista Kleber Atalla em apartamento da cidade de São Paulo (SP), a um mês de completar 43 anos.

Seis anos depois de ter entrevistado Champignon, Felipe Novaes apresenta o documentário Chorão – Marginal alado em sessões de festivais. O depoimento de Champignon está lá, quase no fim do filme em cartaz na 21ª edição do Festival do Rio após ter estreado em outubro em São Paulo (SP) na 43ª edição da Mostra Internacional de Cinema.

Com tudo (?) o que se pode saber de Chorão, Felipe Novaes documenta o voo turbulento do cantor e compositor paulistano, voz e cérebro do skate rock propagado em escala nacional pela banda, Charlie Brown Jr., que Chorão fundara em 1992 em Santos (SP).

Produção da Bravura Cinematográfica distribuída pela 02 Play, o filme perfila Chorão com o enquadramento tradicional dos documentários. Imagens de arquivo – algumas raras como os takes de Chorão na adolescência e como o número feito pelo então pequeno filho do cantor em show do orgulhoso pai – são entrelaçadas com (bons) depoimentos inéditos de amigos e familiares do artista no roteiro estruturado por Felipe Novaes com Hugo Prata e Matias Lovro.

O documentário resulta extremamente interessante porque o artista enfocado tinha personalidade complexa, tão impetuosa quanto magnética. Chorão amou e odiou com paixão. E foi amado e odiado com essa mesma paixão. Intenso é adjetivo recorrente no filme para conceituar o modo com que, entre manobras de skate, Chorão levou a vida tão louca quanto breve.
A densidade da história é atenuada por momentos de humor, gerados quando os entrevistados falam das confusões de Chorão. A briga e as pazes com João Gordo com Chorão, narradas pelo vocalista da banda Ratos de Porão, soam hilárias sob a perspectiva do tempo. Assim como atualmente já resulta até lendário o soco desferido por Chorão em Marcelo Camelo, apontado jocosamente por Chorão como “o ursinho de pelúcia do rock”. Camelo não deu depoimento para o filme, mas é visto na tela com o rosto ainda machucado em imagem extraída de telejornal.

Outro Marcelo, o Nova, não somente fala (muito e bem), como conta que chegou a chamar Chorão de “Xuxa do rock” pelo fascínio exercido pelo cantor junto a um público muito jovem. A cena em que fã, Carol, declara em lágrimas o amor incondicional pelo ídolo, atesta a percepção de Marcelo Nova.

Em que pesem os risos, a história é triste, como lembra Champignon. Pelo menos, o fim é triste. Sem julgamento, Felipe Novaes mostra – através de depoimentos dos que conviviam cotidianamente com Chorão (como a viúva Graziela Gonçalves e o advogado e amigo Maurício Curi) – como o uso e o abuso das drogas precipitaram o fim do artista. Deprimido, chapado, Chorão foi ficando solitário e triste, oprimido pelo peso de se saber arrimo de muitas famílias, inclusive da própria.

Entre cenas de bastidores em camarins e aviões, o clima do filme vai pesando. Mas a moral da história triste contada em Chorão – Marginal alado é a da crença no sonho. Só quem acredita em um sonho expande, vai além, como diz Chorão para uma plateia de show da banda Charlie Brown.

Generoso, do tipo que fazia caridade em segredo, Chorão foi muito além do que se podia prever, ainda que ele mesmo sempre tivesse vaticinado o alcance do Charlie Brown Jr. desde os primórdios da banda de Santos (SP).

Chorão foi metaforicamente longe em voo turbulento cuja rota é refeita em Marginal alado sem glorificações, mas com justificada dose de empatia pela personagem perfilada no envolvente documentário.




Fonte: Postado em: 16-12-2019


“Tem coisas que ninguém nunca vai saber”, argumentou o baixista Champignon ao ser entrevistado pelo cineasta Felipe Novaes em setembro de 2013 para documentário sobre Chorão.

Uma semana depois de dar depoimento para as câmeras operadas sob a direção de Novaes, Champignon – nome artístico do músico paulista Luiz Carlos Leão Duarte Junior (16 de junho de 1978 – 9 de setembro de 2013) – se suicidou.

O suicídio do baixista encorpou a aura trágica que se formara ao redor da banda paulista Charlie Brown Jr. seis meses antes quando Alexandre Magno Abrão (9 de abril de 1970 – 5 de março de 2013), o vocalista Chorão, foi encontrado morto pelo motorista Kleber Atalla em apartamento da cidade de São Paulo (SP), a um mês de completar 43 anos.

Seis anos depois de ter entrevistado Champignon, Felipe Novaes apresenta o documentário Chorão – Marginal alado em sessões de festivais. O depoimento de Champignon está lá, quase no fim do filme em cartaz na 21ª edição do Festival do Rio após ter estreado em outubro em São Paulo (SP) na 43ª edição da Mostra Internacional de Cinema.

Com tudo (?) o que se pode saber de Chorão, Felipe Novaes documenta o voo turbulento do cantor e compositor paulistano, voz e cérebro do skate rock propagado em escala nacional pela banda, Charlie Brown Jr., que Chorão fundara em 1992 em Santos (SP).

Produção da Bravura Cinematográfica distribuída pela 02 Play, o filme perfila Chorão com o enquadramento tradicional dos documentários. Imagens de arquivo – algumas raras como os takes de Chorão na adolescência e como o número feito pelo então pequeno filho do cantor em show do orgulhoso pai – são entrelaçadas com (bons) depoimentos inéditos de amigos e familiares do artista no roteiro estruturado por Felipe Novaes com Hugo Prata e Matias Lovro.

O documentário resulta extremamente interessante porque o artista enfocado tinha personalidade complexa, tão impetuosa quanto magnética. Chorão amou e odiou com paixão. E foi amado e odiado com essa mesma paixão. Intenso é adjetivo recorrente no filme para conceituar o modo com que, entre manobras de skate, Chorão levou a vida tão louca quanto breve.
A densidade da história é atenuada por momentos de humor, gerados quando os entrevistados falam das confusões de Chorão. A briga e as pazes com João Gordo com Chorão, narradas pelo vocalista da banda Ratos de Porão, soam hilárias sob a perspectiva do tempo. Assim como atualmente já resulta até lendário o soco desferido por Chorão em Marcelo Camelo, apontado jocosamente por Chorão como “o ursinho de pelúcia do rock”. Camelo não deu depoimento para o filme, mas é visto na tela com o rosto ainda machucado em imagem extraída de telejornal.

Outro Marcelo, o Nova, não somente fala (muito e bem), como conta que chegou a chamar Chorão de “Xuxa do rock” pelo fascínio exercido pelo cantor junto a um público muito jovem. A cena em que fã, Carol, declara em lágrimas o amor incondicional pelo ídolo, atesta a percepção de Marcelo Nova.

Em que pesem os risos, a história é triste, como lembra Champignon. Pelo menos, o fim é triste. Sem julgamento, Felipe Novaes mostra – através de depoimentos dos que conviviam cotidianamente com Chorão (como a viúva Graziela Gonçalves e o advogado e amigo Maurício Curi) – como o uso e o abuso das drogas precipitaram o fim do artista. Deprimido, chapado, Chorão foi ficando solitário e triste, oprimido pelo peso de se saber arrimo de muitas famílias, inclusive da própria.

Entre cenas de bastidores em camarins e aviões, o clima do filme vai pesando. Mas a moral da história triste contada em Chorão – Marginal alado é a da crença no sonho. Só quem acredita em um sonho expande, vai além, como diz Chorão para uma plateia de show da banda Charlie Brown.

Generoso, do tipo que fazia caridade em segredo, Chorão foi muito além do que se podia prever, ainda que ele mesmo sempre tivesse vaticinado o alcance do Charlie Brown Jr. desde os primórdios da banda de Santos (SP).

Chorão foi metaforicamente longe em voo turbulento cuja rota é refeita em Marginal alado sem glorificações, mas com justificada dose de empatia pela personagem perfilada no envolvente documentário.




Fonte: Postado em: 16-12-2019
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